sexta-feira, 8 de junho de 2012

Heráldica no Futebol


A heráldica refere-se simultaneamente à ciência e à arte de descrever os brasões de armas ou escudos.
As Cruzes nos Escudos dos Clubes
Cruz de Savóia
Cruz de Santo André
Cruz de São Jorge
Cruz de Santiago
Cruz de Avis
Cruz Templária
Cruz Missioneira
Cruzeiro do Sul
Cruzes Não Identificadas
Referências Bibliográficas

Cruz de Cristo




Cruz Pátea
Alguns clubes usam-na vermelha, como a Cruz de Cristo. Neste caso, só falta mesmo a cruz grega branca. P.ex., a Tuna Luso Brasileira, de Belém (PA), cuja evolução dos escudos vemos abaixo (obs.: interessante que, assim como faz o Vasco da Gama, a Tuna Luso também insiste em dizer que sua cruz é a de Malta, para o que invoca a memória das Cruzadas e das grandes navegações portuguesas):


Evolução dos Escudos da Tuna Luso Brasileira.

Como vimos, os primeiros escudos da CBD tinham uma cruz pátea do segundo modelo. No entanto, a partir de 1960, ela passou a ter o formato de uma Cruz de Cristo, porém branca, não vermelha nem vazada por uma cruz grega. Então, passou a ser uma cruz pátea do sétimo modelo:

Escudo atual da CBF.
Cruz de Malta


Em 1048, durante as Cruzadas, mercadores italianos estabeleceram em Jerusalém um monastério beneditino com um hospital para os peregrinos, dedicado a São João Batista. Em 1099, Godofredo de Bulhões fez tantas doações ao hospital que seu diretor, o beato Gerardo, criou uma nova organização, com o nome de Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta. Existe até hoje, como uma organização humanitária, soberana (emite moeda, selos e passaportes, mantém representantes diplomáticos, inclusive no Brasil), mas sem território próprio.
Os cavaleiros hospitalários se instalaram em Portugal desde o século XII. Em 1232, o rei D. Sancho doou à Ordem grandes territórios que receberam o nome de Crato. Por essa razão, a partir do reinado de D. Afonso IV, o superior dos hospitalários, em Portugal, era chamado de prior do Crato. Aliás, o último rei da Dinastia de Avis (de 1580 a 1581), D. António, era prior do Crato.
A Ordem de Malta tem duas cruzes diferentes por emblema. Uma é chamada pela Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira de “Cruz do Hospital”. É uma cruz latina (de haste inferior maior que as demais), branca (prata), cheia (ao contrário da cruz vazia, de que só se vê o contorno), sobre campo vermelho (“goles”). É a cruz utilizada no escudo da Ordem. Eu achava que foi ela que deu origem à cruz que simboliza hospitais, embora esta não seja latina, mas grega (de hastes iguais). Todavia, segundo Luiz Cesar Saraiva Feijó, a Cruz Vermelha se inspirou na bandeira suíça, apenas com as cores trocadas.
Já a cruz usada pelos cavaleiros hospitalários, do lado esquerdo, chamada Cruz de Malta ou de São João, é uma cruz branca octógona, i.e., de quatro braços em V, iguais, que começam em ponta no centro e se alargam, em linha reta, formando duas pontas em cada (por isso, diz-se que ela é “duplamente aguçada”), como rabos de andorinha. Dizem que seu desenho se inspirou das cruzes utilizadas desde a Primeira Cruzada e que as oito pontas representam as máximas do Sermão da Montanha.
“Sobre os peitos leais, vascaínos/ Brilha a Cruz gloriosa de Malta”, canta o Hino Triunfal Vasco da Gama, de 1918, letra e música de Joaquim Barros Ferreira da Silva. “Vamos todos cantar de coração/ A Cruz de Malta é o teu pendão”, são os primeiros versos da Marcha do Vasco, de 1945, o hino extraoficial feito por Lamartine Babo. E para que não restem dúvidas, o art. 7º do Estatuto do CR Vasco da Gama (RJ), de 09.07.1979, estabelece textualmente que sua cruz é a de Malta, nos seguintes termos:
“Art. 7º O pavilhão do Clube é preto, com uma faixa em diagonal partindo do canto superior do lado da tralha, a Cruz de Malta em vermelho no centro e na parte superior duas estrelas douradas, uma ao lado da outra; uma delas simbolizando as conquistas dos Campeonatos Invicto de Mar e Terra no ano de 1945 e a outra do Campeonato Brasileiro de Futebol do ano de 1974. As cores da bandeira e a Cruz de Malta serão reproduzidas nos uniformes, emblemas e insígnias usadas pelo Clube.”
Ocorre que, pelo que se pode verificar facilmente na descrição, nos desenhos e gravuras acima, os hinos e o estatuto podem dizer o que for: é óbvio que a Cruz de Malta não é a cruz utilizada pelo Vasco. Todo material produzido pelo Vasco está em desacordo com o Estatuto, ou o Estatuto está errado? Para responder essa pergunta, é preciso saber qual foi a intenção do clube.
Ora, a cruz do clube também não é a cruz das caravelas portuguesas (ver Cruz de Cristo, mais adiante). Se o Vasco queria homenagear o ilustre almirante português, e tudo indica que sim, fez bem em não escolher o desenho da verdadeira Cruz de Malta. Mas isso não significa que a Cruz de Malta esteja totalmente alheia à nossa história. Certamente que não há um vínculo tão forte quanto o que temos com a Ordem de Cristo (que veremos adiante). Todavia, como vimos acima, a Ordem de Malta esteve presente em Portugal durante todo o período da colonização do Brasil. Aliás, está presente até hoje, com representação diplomática e ações assistenciais. 

Escudo do Vasco da Gama.

Pelo que foi pesquisado, não foi encontrado nenhum escudo de clube brasileiro com uma autêntica Cruz de Malta. Nem sequer a Portuguesa do Crato (CE), que, como já vimos, ostenta a Cruz de Avis – nitidamente inspirada na Portuguesa de Desportos. Na minha opinião pessoal, ela bem poderia, em alusão ao prior do Crato, ter escolhido a verdadeira Cruz de Malta. Seria uma opção bastante original e plenamente justificável.
"O primeiro escudo do Vasco, criado em 1903, tinha uma Cruz de Cristo na caravela, à semelhança do que acontecia nas caravelas da época dos descobrimentos. Alguns anos depois, a Cruz de Cristo foi substituída pela Cruz de Malta. Entretanto, mais tarde, descobriu-se que a Cruz de Malta é, na realidade, uma Cruz Patée, também conhecida como Cruz Pátea. A verdadeira Cruz de Malta é bem diferente da Cruz Pátea, pois tem as extremidades bifurcadas. Texto extraido do site oficial do Vasco."
Por Laércio Becker, de Curitiba/PR - laerciobecker@bol.com.br

4 comentários:

  1. ficou a tradição de se chamar cruz de malta.

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  2. já pensou na hora em vez de dizer torcida cruzmaltina dizer torcida pateatina?

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  3. É mesmo, seria meio esquisito chamar torcida pateatina! Agora, que tal chamar torcida Alvi-Verde, Lusa ou apenas Tunante?
    O fato é que o equívoco virou marca registrada, maior até do que deveria ser. De qualquer forma, a matéria foi publicada apenas para esclarecimento. Poderiamos sim, quem sabe, colocar no escudo da Tuna a verdadeira Cruz de Malta, ao invés da Cruz Pátea, o que acham?

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  4. É uma questão a se debater entre os tunantes. Uma mudança destas requer uma consulta que respalde. Afinal já temos esta cruz pátea há muito tempo. O interessante é que outros clubes já adotaram a cruz em seus escudos, me parece que o Independente e o Cametá. Como será que eles escolheram este símbolo? Influência da Tuna? Do Vasco? De ambos? Antes creio que era só a Tuna a usar no Pará a cruz. Serão que eles se chamam cruzmaltinos também? Parece que não fazem questão. Márcio

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