segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A natação da Tuna em 2011

por: José Maria Cardoso da Silva

Colaborador da Natação Tunante

A natação da Tuna Luso Brasileira termina 2011 demonstrando como os esportes amadores poderiam ser geridos no clube. Em 2010, o clube corria o risco de não mais competir oficialmente, pois devia mais de 10 meses de mensalidades à Federação Paraense de Desportos Aquáticos. O primeiro passo foi quitar esta dívida. Usamos dinheiro dos nossos bolsos para fazer isso. Depois, conseguimos atrair o Programa Natação Cidadã para o clube. Com isso, conseguimos contratar bons profissionais para o clube, a maioria dos quais com graduação e mesmo pós-graduação. Muitos dos nossos atuais professores e treinadores são ex-atletas da Tuna, ou seja, são crias da própria casa. A lógica usada foi simples: na natação moderna, não há mais espaço para profissionais amadores, sem uma boa base de fisiologia, bioquímica, anatomia e mesmo psicologia.

Desde 2010, decidimos investir na base ao invés de atrair nadadores de outros clubes com ofertas mirabolantes, como é a tradição na natação brasileira. No final do ano, tínhamos conseguido equilibrar as contas. Não havia mais salários atrasados e o número de alunos nas escolinhas – a nossa principal fonte de renda -- estava aumentando.

Criamos um blog que já tem mais de 15.000 visitas e que se tornou referência para a comunidade aquática paraense e mesmo brasileira. Redesenhamos os nossos uniformes e adotamos um mascote, controverso mas charmoso. Temos até mesmo a nossa própria música, feita de forma profissional. Os nossos resultados em 2010 foram modestos, mas já estávamos incomodando os clubes tradicionais.

Em 2011, o Projeto Natação Cidadã mudou-se definitivamente para a Tuna. Hoje temos 300 crianças carentes nadando no clube, em um dos maiores projetos sociais da natação brasileira. Conseguimos manter o nosso quadro de professores e passamos a ter a coordenação técnica e voluntária do Prof. Fernando Wilkins, um dos melhores técnicos da natação paraense. Vários nadadores paraenses mudaram para a Tuna atraídos pela nova proposta de trabalho. Conseguimos trazer até a Antonella Crespo, nossa estrela uruguaia, que ajudou a Tuna a marcar pontos preciosos nos campeonatos brasileiros. Conseguimos fazer vários campeões paraenses, campeões norte-nordeste e finalistas de campeonato brasileiro, mostrando que a nossa filosofia de recuperação a partir da base está funcionando. Vários dos nossos atletas mirim-petiz terminaram na lista dos melhores do Brasil. Nosso revezamento masculino infantil foi arrasador e não sobrou para ninguém no Pará. Foi um ano de sucesso, ainda modesto mas progressivo. Até 2010, a Tuna sequer aparecia no ranking oficial de clubes da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Até outubro de 2011, estávamos na vigésima posição nacional. Este é um grande feito. Observem, por exemplo, que o futebol tunante ocupa a 53a posição nacional.

A Tuna hoje é um clube deficitário. O que o clube arrecada não paga os custos de manutenção e não permite investimentos. Sem investimentos o clube não melhora e sem melhora substancial na infra-estrutura e serviços a arrecadação não aumenta. Este é o ciclo que precisa ser rompido para fazer a Tuna crescer novamente. A natação mostrou como se faz. A receita é simples: (a) conseguiu os recursos para a recuperação por meio de parcerias sociais e transparentes com o setor empresarial sério; (b) acabou com a intromissão de diretores e palpiteiros em assuntos técnicos, contratando e apoiando profissionais qualificados para a preparação das equipes e prestação de serviços; e (c) aumentou a comunidade de suporte ao clube, engajando as famílias de todos os atletas por meio de eventos, novos uniformes, mascotes, comunicação efetiva e música. Esta simples combinação de estratégias fez a natação da Tuna sair da quase falência para a auto-sustentabilidade.

Para a diretoria da natação, de nada adianta ter uma natação forte em um clube fraco, pois, no final das contas, sacrificaremos novamente o nosso crescimento para pagar as contas dos setores deficitários do clube e, com isso, nunca melhoraremos o nosso parque aquático, que precisa de pelo menos R$ 500 mil de investimentos para servir bem ao sócio.

Esperamos que em 2012, todos as pessoas que gostam realmente da Tuna resolvam dar a sua contribuição para a construção de um clube melhor. Tenho cinco sugestões simples, que se forem viabilizadas criarão a base para uma Tuna muito mais forte: (a) que os sócios remidos procurem o clube e troquem voluntariamente os seus títulos por títulos de sócio-proprietário, passando assim a contribuir mensalmente com o clube; (b) que a diretoria eleita promova a descentralização do clube, com departamentos autônomos para os esportes amadores; (c) que cada tunante bem sucedido financeiramente adote pelo menos um destes departamentos autônomos, trabalhando para torná-los auto-sustentáveis, seguindo o modelo que criamos na natação; (d) que a diretoria busque parcerias para a criação de uma empresa que gerencie o futebol tunante de forma profissional, atraindo investimentos privados para formar equipes competitivas da base ao profissional; (e) que a nova diretoria adote um sistema mais eficiente e transparente de gestão, com prestação de contas mensais e comunicação efetiva com os sócios para garantir credibilidade e apoio.


Feliz 2012!

5 comentários:

  1. Concordo com todas as sugestões menos uma: a de que os sócios remidos troquem os seus titulos por de socios-proprietários. Eu sou sócio-remido, e na época lembro que o titulo de sócio-remido era muito mais caro que o de sócio proprietário, justamente para compensar que o sócio-proprietário teria de pagar depois as mensalidades. Sugiro, não como palpiteiro comum, mas como sócio e torcedor da Tuna que tem sim o direito de dar sugestões, que podem ou não ser aceitas, por isso sõ sugestões. Cada sócio ou torcedor tem sim o direito de dar sugestões. Grandes multinacionais aceitam sugestões de consumidores e eles às vezes tem grandes ideias para dar. Por que menosprezá-los? Menosprezar os pequenos, só por não serem beneméritos ou grandes beneméritos ou por não serem doutores nisso ou naquilo contraria os principios de participação. Agora adotar as sugestões é outra coisa. Aí sim, entra o técnico com seus conhecimentos e o diretor com a questão politica do clube, para ver se a sugestão se coaduna com a filosofia geral do clube. O que se poderia é pedir que o sócio-remido contribua, dentro de suas possibilidades, com algum valor, gfaça doações. Deixar de aceitar sugestões ou inibir sugestões seria um processo anti-democático que contraria o que a Tuna propôs quando iniciou este processo com as eleições diretas para presidente.
    Vejo com satisfação, como sócio-remido e torcedor a natação tunante ser bem sucedida. E creio que seu modelo poderia, dentro das especificações, ser adotado em outras mnomodalidades esportivas na Tuna. Mas é preciso analisar e cada diretoria de cada esporte ver como isso poderia ser feito. Realmente o profissionalismo é salutar. Mas cada pai de atleta, cada atleta, dentro de sua humilde visão pode ter uma contribuição, pode estar tendo uma percepão que os técnicos e diretores não preceberam. Cabe aos técnicos no seu sabaer e os diretores, em seu poder, reconhecer isso e avaliar. A Tuna tem que ser feita de todas estas partes. Sucesso à natação tunante e ao clube como um todo!
    Márcio José Matos Rodrigues
    Psicõlogo
    Professor de História
    Sócio
    E Torcedor da Tuna como muita satisfação!

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  2. Desculpem os errinhos de português. Foi a pressa!
    Márcio

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  3. Caro Márcio,

    Obrigado por seus comentários. Muito úteis. Quando eu me referi a palpiteiros, eu quis mencionar a palpites dados na preparação técnica dos atletas. Todos tunantes devem cobrar resultados das equipes e dar suas sugestões. O que eles não podem fazer é interferir nos trabalhos técnicos, como acontecia em vários esportes. Para isso, há profissionais qualificados. Sobre a mudança do título de sócio, é um ato voluntário, de amor a Tuna. Naturalmente, colaboração voluntária dos sócios remidos poderia substituir a minha sugestão também. Do ponto de vista puramente financeiro os títulos, tanto remidos como proprietários, valem muito pouco hoje, pois ninguém quer comprá-los, dado o estado do clube. O importante é o seguinte: se não resgatarmos a Tuna da situação em que ela está, ela nunca vai oferecer bons serviços aos sócios. Sem isso, os títulos, tanto remidos como proprietários, continuarão a ter pouco valor no mercado. A Tuna precisa de investimentos dos seus sócios...e urgente!

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  4. Concordo em parte com os comentários de ambos. A Tuna precisa resgatar com uma certa urgência todos os ambientes do clube, principalmente aqueles destinados aos sócios, sejam eles proprietários ou remidos.
    Se a diretoria conseguir ivestir na parte da estrutura social o suficiente para dar o mínimo de conforto, de forma segura aos sócios, nos creio que els voltem a frequentar o clube.
    Com o clube bem cuidado, funcionando plenamente durante a semana ínclusive, é bem provável que os antigos sócios retornem e novos associem-se.

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  5. Certo! Acho que é preciso atrair investimentos, parceiros, patrocinios. Como fazer? Bem, creio que os exemplos da natação podem não ser uma fórmula mágica, mas são um indício de que com iniciativa, boa vontade e criatividade poderemos achar caminhos. Se é necessária a colaboração de sócios e torcedores poderia se criar uma conta especifica e deixar em aberto para colaborações. Cada um depositaria por mês a quantia que pudesse. Ou então deixar disponível para colaboradores levarem à Tuna, ATAT ou em locais indicados para serem entregues produtos como alimentos, eletrodomésticos, material esportivo. E temos que seguir exemplos de outros clubes vitoriosos. Criar uma marca Tuna que signifique um clube que tem um passado de conquistas e que tem projetos esportivos, realiza atividades importantes no esporte.Criar projetos sociais que estimulem o esporte e dêem chances para crianças, adolescentes e jovens de se desenvolverem pessoalmente, esportivamente e como cidadãos. Talvez entidades pudessem colaborar. Tem que pensar em alternativas viáveis! Temos potencial! É preciso colocar isso em pártica, fazer a Tuna exercer este potencial para se tornar maior! E envolver de alguma forma sócios e torcedores nestas atividades. Como? Colaborando, adquirindo produtos, divulgando a Tuna, passando a ideia da Tuna como um clube engajado em projetos e em várias ações. Estimular sempre um sentimento de comunidade cruzmaltina. Tornar a Tuna um clube mais popular. Passar a ideia de que a Tuna é uma elite no esporte, no sentido de qualidade e não uma elite no sentido de só querer pessoas de uma elite econômica.
    Somos um clube de origem luso-brasileira. Precisamos de apoio da chamada colônia portuguesas, mas isso não basta. Como é luso-brasileira, a Tuna também é um clube de paraenses. É então uma mistura de duas culturas e podemos usar bem isso. Somos açai e bacalhau, fado e carimbó. Isso pode ser um bom simbolismo. Duas culturas juntas, a lembrança e a continuação das origens lusas e a cultura paraense que também está na Tuna. Afinal, quantos de nós são paraenses? Muitos! E os portugueses em sua maioria tem filhos paraenses.
    Quem sabe passar esta ideia de interação cultural para outros clubes de origem lusa pelo mundo afora? Por exemplo, há clubes de origem lusa em Macau. estes clubes podem ter elementos chineses e lusos. Na Inglaterra também há clubes de origem lusa e que podem ter elementos ingleses. Assim, todos estes clubes podem fazer esta fusão de elementos culturais, não esquecendo de que há um grande fator em comum e inicial que é a base lusitana. Será que estes clubes não poderiam ter uma parceria? Bem, talvez não seja agora. E também nada pode ser imposto. Mas o importante é que parcerias e apoios serão necessários!
    Um abraço.
    Márcio Rodrigues
    01/01/2012

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