Ex-atacante com passagem por Remo, Paysandu e Tuna era desengonçado, com as pernas finas e tinha uma barriga um tanto avantajada
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Desengonçado, com as pernas finas e uma barriga um tanto avantajada, o
que rendeu o apelido de Sabiá. Para muitos, à primeira vista, Ageu
poderia ser tudo, menos um jogador de futebol. Mas bastavam alguns
minutos em campo para o atacante mostrar que era um artilheiro nato,
capaz de pegar a bola na linha intermediária, deixar os zagueiros no
chão e sair para comemorar o gol com a torcida. Hoje com 46 anos, Ageu
Sabiá se diverte contando as histórias que o transformaram em um dos
maiores mitos do futebol paraense (assista acima alguns gols da carreira de Ageu).
Artilheiro por dois anos seguidos do Campeonato Santareno de 1986/87,
Ageu chamou atenção do diretor Walter Abél, da Tuna Luso, que tinha
viajado a Monte Alegre-PA. Assim que viram o biotipo do atleta, até
então desconhecido, jogadores, comissão técnica e até os repórteres que
cobriam o dia a dia do clube riram e se perguntavam: como uma pessoa
acima do peso poderia se aventurar a jogar profissionalmente?
- No início foi muito difícil. A desconfiança era muito grande. Ninguém
acreditava no meu potencial. Mas bastaram os primeiros treinamentos
para que eu provasse o contrário. Quando viram que, mesmo tendo uma
barriga saliente, eu conseguia fazer as jogadas de velocidade e
finalizar com precisão, as pessoas começaram a me respeitar. Costumo
dizer que jogador habilidoso, velocista, inteligente e, claro, gordinho,
só existe um: Ageu Sabiá – conta, sem cerimônia.
Ageu Sabiá nunca abriu mão de refrigerante com
pastel (Foto: Gustavo Pêna)
Com 1,67m de altura, Ageu afirma que o seu peso ideal era de 65 kg, mas
que chegava a entrar em campo pesando 75 kg. De acordo com ele, esses
10 kg a mais não atrapalhavam em nada na hora da partida. Sabiá confessa
que a alimentação nada saudável ajudava no ganho de peso. O jogador
adorava comer hambúrguer, churrasco, pastel, refrigerante e ainda se
aventurava em tomar alguns copos de cerveja.
- Eu deixava os treinamentos e atravessava a rua para comer hambúrguer.
Se não tinha, o jeito era comer pão com manteiga e refrigerante. Aquela
cervejinha também não podia faltar. Os preparadores físicos sabiam
disso, mas não me questionavam, pois tinham consciência que dentro de
campo eu me garantia. Eles não me botavam para correr seis quilômetros
igual os outros. Eu fazia treinos específicos. No campo, corria 100
metros em dez segundos. Poucos jogadores conseguiam isso.
Da Tuna, Ageu jogou no Paysandu, onde ajudou os bicolores a
conquistarem o acesso à Série B em 1990, mas foi no Clube do Remo que o
atacante ganhou a fama de “carrasco”, principalmente quando enfrentava o
Papão. No Leão, o jogador foi o artilheiro no pentacampeonato estadual e
um dos principais personagens no tabu de 33 jogos de invencibilidade no
clássico Re-Pa.
- Respeito o Paysandu, tenho carinho pela Tuna, mas sou torcedor do
Remo. Meu diferencial era fazer gol em Re-Pa. Podia passar muitos jogos
sem fazer gol, mas bastava fazer um no Re-Pa que a gente era rei. Sou um
dos maiores artilheiros do clássico, com 48 gols. Jogando pelo Remo, em
1993, ficamos entre os oito melhores times da Primeira Divisão, comigo
disputando a artilharia da competição. Guardo na memória um gol que
marquei pelo Leão, diante da Desportiva, do Espírito Santo, quando
driblei todo mundo e o meu gol foi eleito o mais bonito no programa
Fantástico.
‘O cavalo é barrigudo e também corre’
Folclórico, Ageu Sabiá é cheio de histórias engraçadas e frases de
efeito que ficaram marcadas em razão da barriga avantajada. A mais
conhecida delas aconteceu em 1993, quando Remo e Portuguesa se
enfrentaram no Estádio do Canindé, pelo Brasileiro.
- O repórter veio me entrevistar e perguntou como eu poderia correr com
aquela barriga toda. Olhei para ele e disse: ‘O cavalo é barrigudo e
também corre’. Também em 1993, a gente iria enfrentar o Goiás no Serra
Dourada, e um outro repórter veio me dizer que era difícil ganhar deles
lá dentro. Eu só fiz responder: ‘Difícil é dar rasteira em cobra e
cachuleta em jabuti. O resto é fácil’. Eu desembarcava do ônibus para
treinar e as pessoas pensavam que eu era o roupeiro do time. Eu deixava
pensarem e respondia dentro de campo. Todo mundo ficava boquiaberto
quando marcava os gols.
Fama de ‘gordinho’ atrapalhou a ida para clubes do Sul e Sudeste
Como todo jogador, Ageu tinha o sonho de jogar nos grandes clubes do
eixo Sul e Sudeste. No fim da carreira, o atleta teve passagens rápidas
pelo Noroeste e São Carlense. Segundo o artilheiro, o preconceito era a
principal barreira para conseguir uma oportunidade em grandes equipes
como Flamengo, São Paulo, Corinthians e Grêmio. Em 1994, por exemplo,
Sabiá esteve perto de fechar com a Portuguesa. Ele teve que se contentar
em encerrar a carreira em 2004, pelo Ananindeua-PA.
Ageu encerrou a carreira em 2004, pelo Ananindeua
(Foto: Raimundo Paccó/Arquivo O Liberal)
- Eu já estava me preparando para viajar a São Paulo, quando o técnico
Candinho foi demitido e um outro foi contratado, e não quis mais me
levar. As pessoas sabiam da minha fama de atacante artilheiro, mas
também ouviam falar que eu era gordinho. Acredito que os presidentes dos
clubes tinham medo de apostar no meu futebol e as coisas não darem
certo. Os dirigentes comentavam que eu era gordinho demais. Mas isso
nunca me entristeceu. Meu negócio mesmo era jogar e fazer gol, fosse no
Pará ou na Europa, não me importava com o lugar.
'Se deixarem, o Walter é artilheiro na Seleção Brasileira’
O Campeonato Brasileiro ainda está na metade, mas Ageu Sabiá já elegeu o
craque da competição: Walter. Ageu vê no gordinho do Goiás as mesmas
características que tinha quando jogava. De acordo com ele, Walter nunca
vai conseguir emagrecer e, mesmo estando acima do peso, vai continuar
balançando as redes adversárias.
- As pessoas vinham falar que o Walter jogava igualzinho como eu.
Comecei a assistir os jogos e perceber que realmente era parecido na
velocidade e na habilidade dentro da área. Os jogadores fazem com o
Walter exatamente o que faziam comigo: me deixavam de lado, não
confiavam no meu futebol. Mas é só dar o primeiro traço e fazer o gol
que a marcação acontece. Esse atacante do Goiás não precisa emagrecer.
Se isso ocorrer, ele para de fazer gol.
Ageu
se diverte contando as suas histórias no futebol. Para ele, o atacante
Walter, do Goiás, merece uma oportunidade na Seleção Brasileira (Foto:
Gustavo Pêna)
Assim como grande parte dos torcedores, Ageu pede que o técnico Felipão
dê uma oportunidade para Walter no ataque da Seleção Brasileira.
Segundo ele, o Tufão tem espaço no time na equipe canarinho, mas trata
logo de avisar: o seu posto de verdadeiro gordinho artilheiro nunca vai
ser tomado.
- O Walter tem totais condições de jogar na Seleção Brasileira. Se
deixarem, ele vai ser artilheiro. É um excelente jogador, oportunista, e
o nosso time está precisando de um atleta com essas características. É
um exímio ‘matador’, vai dar certo, com certeza. Mas é bom que as
pessoas saibam de uma coisa: o verdadeiro gordinho artilheiro mais
famoso do Brasil sou eu. O Walter é o segundo – se diverte Sabiá.
fonte: globoesporte.com

NOTA:
Considerando que o referido jogador foi formado nas categorias e despontou para o futebol profissional através da base da Tuna, o autor da reportagem poderia pelo menos ter tido a consideração de colocar uma foto de Ageu "Sabiá" com a camisa da Tuna Luso, não acham?
Segue uma foto importante na história da Tuna e de Ageu também!
Segue uma foto importante na história da Tuna e de Ageu também!
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