sexta-feira, 11 de maio de 2012


 O professor Carlos Dornelles puxa a turma no treino. 
O sucesso da Tuna também está no físico.

”- Vou vencer esta partida com facilidade.
Nos dois últimos meses, o torcedor paraense começou a ser desafiado pelas declarações e previsões ousadas do treinador Aureliano Beltrão, contratado pela Tuna Luso Brasileira. Qualquer que fosse o adversário -  Paissandu, Remo ou mesmo os mais modestos times do interior -  a previsão se repetia. E, o que é mais importante: se concretizava.
De repente a Tuna deixava de ser um mero coadjuvante na briga dos papões de títulos do futebol paraense para assumir o honroso posto de melhor time do Estado. De um grande que jogava como pequeno, todo trancado, passou a desenvolver um futebol agressivo, rápido, em ritmo intenso, do primeiro ao último minuto. Resultado: em dois meses, conquistou o título do Torneio Juvêncio Dias e praticamente assegurou a Taça Cidade de Belém - ganhou o primeiro turno dando um autêntico passeio na dupla Remo-Paissandu.
- Vou ganhar o Campeonato Paraense com facilidade.
Semana passada, Aureliano Beltrão se excedia nas previsões e despertava, na torcida, os mais curiosos comentários. Para uns, ele não passa de um mascarado, empolgado com a fragilidade de Remo e Paissandu. Para outros, um faladro, entusiasmado com a sorte da Tuna. Poucos conhecem méritos no treinador. Tranqüilo, Beltrão se justifica:
- A Tuna era um time passivo, que aceitava tudo com humildade e não apresentava nenhuma reação. Sendo um clube tão grande como Remo e Paissandu, era preciso sacudir, agredir, motivar, preparar psicologicamente os jogadores. O treinamento é o menos importante neste contexto. O importante é que os objetivos estão sendo atingidos. Eu sei o que estou fazendo, tomei esta atitude com um risco calculado.
Até agora, tem tudo dado certo. Em 12 jogos, a Tuna conseguiu sete vitórias (uma sobre o Remo e três sobre o Paissandu), quatro empates e apenas uma derrota. E, a cada semana, lá aparece o time na ponta da tabela desafiando as mais severas críticas. Mas isso é suficiente para se prever, desde já, a conquista de um campeonato que nem começou? Beltrão diz que sim e explica por quê:
- Já analisei os adversários. Para fazer força com nosso time eles vão ter que melhorar muito e em pouco tempo. O campeonato já vai começar, e no desespero ninguém acerta uma equipe. Ainda estamos no início de nosso trabalho e já da para ver a diferença. Nossos jogadores ainda estão em fase de assimilação do esquema que vem sendo executado. Quando chegar a fase da soltura, vamos subir ainda mais.
Novidade maior mesmo - e que conseguiu entusiasmar mais os jogadores do que a instituição da tabela de bichos -  foi o final da concentração. Beltrão conversou com os dirigentes, mostrou que todos os jogadores eram responsáveis, e conseguiu o impossível: cada jogador passou a receber semanalmente, 200 cruzeiros para ficar em casa. Assim, com dinheiro no bolso, eles se recolhem às vésperas de cada partida, sob uma única condição: não podem sair de casa depois das 20h.
A torcida e os associados do clube colaboram denunciando, de imediato, qualquer jogador que desobedeça. Assim, o faltoso que for visto na rua, depois do horário estabelecido, além de perder a cota de 200 cruzeiros, ainda recebe uma multa de 10% sobre os salários. Beltrão não chega a ser intransigente. Aos que estudam à noite, ele libera o rígido horário.
Na bola ou no grito, a Tuna já voltou a ser grande. E ninguém mais se arriscar em contestar as previsões do otimista Beltrão. A Tuna está jogando um futebol de campeã”.
fonte:Revista Placar de 6 de maio de 1977.
fonte: Blog Memória Tunante

Nenhum comentário:

Postar um comentário