quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Galo não quer mais cantar com a bola

Marinho - Fase negra do futebol paraense deixa o ídolo da torcida desgostoso
TYLON MAUÉSDa Redação

Não é raro ouvir nos treinos de Remo e Paysandu os torcedores reclamarem de cruzamentos errados feitos por laterais. Muitos deles lembram dos cruzamentos de Marinho: a bola sempre tinha como endereço a cabeça dos atacantes. Junto com Abel e Mesquita, Mário Assunção de Carvalho é o único jogador que foi campeão estadual pelos três grandes da capital. Em 1970 pela Tuna Luso; 1974, 75, 77, 78 e 79 pelo Leão; e em 1984, pelo Papão. Titular do Remo na maior parte da década de 70, no time cantado em verso e prosa pelos torcedores como o melhor de todos os tempos no Baenão, ainda hoje Marinho é lembrado como exemplo de excelência na lateral-direita.
Quando chegou ao Baenão em 1974 com 22 anos, o Marinho, apesar de ter sido campeão paraense pela Tuna Luso dois anos antes, ainda era uma promessa. Ele chegou para suprir a lacuna deixada pela saída de Aranha. No Evandro Almeida, disputava a camisa dois palmo a palmo com Rosemiro, que chegou à seleção brasileira olímpica. O caminho ficou, enfim, livre em 1975, quando o concorrente foi para o Palmeiras/SP.
Mas um dos momentos mais marcantes na carreira de Marinho no futebol paraense foi com a camisa do Paysandu. Em 1983, no primeiro dos dois anos em que esteve na Curuzu, ele marcou o gol da vitória de 2 a 1 no Re-Pa decisivo do primeiro turno. Na comemoração, saiu em disparada, mas não para o banco de reservas do Paysandu, e sim para o do Remo, onde desferiu um chute no então diretor de futebol do adversário, Roberto Macedo, desafeto e supostamente um dos responsáveis pela sua saída do Baenão. 'Me arrependo bastante. Foi uma besteira. Fui punido e, felizmente, depois, pude me desculpar com o doutor Macedo', lembra o Galo Velho, apelido dado pelo então capitão azulino José Dultra dos Santos.
Assim como gosta de lembrar dos momentos vividos no Remo e no Paysandu, Marinho tem predileção especial quando recorda dos dois anos nas Laranjeiras, quando defendeu o Fluminense, e do começo de carreira no Souza, pela Tuna. No Tricolor do Rio, ele conquistou o Campeonato Carioca de 1980 ao lado de jogadores como Delei, Edinho e Cláudio Adão. Na Lusa, foi o começo de carreira e o excelente time campeão paraense de 1970. 'A maioria tinha acabado de subir da base. Fefeu, Leônidas, Mesquita e Eu. Era um time muito bom. Éramos os ‘Coelhinhos do Aloízio Brasil’, como nos chamavam na época', lembra Marinho, que garante até hoje ser torcedor cruzmaltino.
Hoje em dia, a carreira de treinador foi deixada de lado. Segundo ele, a falta de prestígio dos técnicos locais com os dirigentes é algo desanimador. Marinho não faz planos para um dia voltar ao futebol, mas garante que não é uma porta que se fechou. 'O pior dia para um ex-jogador é o domingo, quando dávamos show. Nesses dias, bate uma saudade enorme dos gramados', conta. Confira mais na entrevista a seguir.
Anos 70
A gente comentava que não precisava de treinador. Nós nos conhecíamos muito e o time tinha muita qualidade. Quando a gente se reúne hoje em dia, comentamos como era boa aquela época, de como o elenco era cheio de gente boa. Os nossos adversários também eram bons. Paysandu e Tuna também tinham times excelentes.
Travessias
Na época, era muito polêmico trocar de time (entre Remo e Paysandu). Quando éramos convocados para a seleção paraense, recebíamos ordens de não conversar com o pessoal do Paysandu. Acho que eles também recebiam a mesma ordem. Mesmo assim, a gente conversava bastante. Os dirigentes pediam, inclusive, para que os jogadores nem passassem na frente da Curuzu. Quando troquei o Baenão pela Curuzu foi muito difícil. Eu tinha uma história no Remo, mas a proposta do Paysandu foi muito boa.
Chute
Tive um atrito com o Roberto Macedo (ex-diretor de futebol do Remo). Foi no lance do gol meu de cabeça. Por incrível que pareça, pelo Remo eu nunca fiz gol contra o Paysandu. Daquela vez, eu marquei o da vitória do primeiro turno (2 a 1). É uma coisa que me arrependo muito. Criei um tumulto e nem gosto de lembrar. Minha filha viu certa vez a imagem e disse: ‘Pai, você fez besteira’. Felizmente, tive oportunidade de pedir desculpa ao doutor Macedo. Hoje eu não faria aquilo, com certeza. A repercussão foi enorme. Chegou a sair no Jornal Nacional e eu levei 50 dias de suspensão.
Assistências
Sempre tive facilidade de bater na bola, mas eu treinava muito. Quando a gente conversa com o pessoal das antigas, comenta-se que hoje em dia os jogadores passam mais tempo nas academias do que em campo. Tinha que ser o contrário. É no campo que se aprende a bater na bola e aperfeiçoar a técnica. Na época, fazíamos até três coletivos por semana.
Patrocínio
Naquela época, nem patrocínios tínhamos, ao contrário de hoje. Os dirigentes tiravam dinheiro do bolso para ajudar nos pagamentos. Hoje em dia, com tanto patrocínio, não se consegue montar times bons. Atualmente, quase nem vou ao campo.
Rivalidade
Ainda hoje o pessoal brinca comigo nas ruas, pedem para eu voltar. Eu digo que se me dessem um mês, eu voltaria. Fico muito feliz com isso. Sou fã demais das torcidas de Remo e Paysandu. Os times não têm feito muito por elas.
Galo Velho
Isso é coisa do Dultra. Ele apelidava todo mundo. Ele era o Sapão. O Dico era o Buru. Pegou e hoje todo mundo me chama assim.
Fluminense
Desde muito novo sonhava em jogar no Rio de janeiro. Eu namorava ainda com minha esposa. Eu dizia a ela que um dia iríamos morar no Rio. O Joubert Meira e o Paulo Amaral foram muito importantes para minha ida para o Fluminense. Eles haviam treinado o Remo e me conheciam. Então, lembraram do meu nome quando o clube estava à procura de um lateral-direito. Fiquei feliz demais. Foi um sonho que se realizou. Eu já havia jogador no Maracanã pelo Remo quando vencemos o Flamengo por 2 a 1, em 1975. Pelo Fluminense, estreei lá em 1980, contra o Atlético/MG. Perdemos por 2 a 1. Mas era um timaço também, com Cerezo, Reinaldo e Éder.
Atacantes
Aqui no Pará o maior foi o Lupercínio. Era um ponta muito difícil de ser marcado. O Paysandu teve o Da Costa, que também era muito difícil de se marcar. No futebol nacional teve o Edu, Éder, Lula (Internacional), Joãozinho (Cruzeiro), jogadores que eram muito bons. Vivemos uma época de pontas de habilidade.
Técnicos
Tive, nas divisões de base, o Valdir Ribeiro, Artur Vicentine e Aloízio Brasil. Foram importantes demais. Me deram conselhos que foram úteis em minha carreira. Depois, o Joubert Meira e o Paulo Amaral, no Remo, com muitos treinos específicos para o lado direito.
Diretoria
Tínhamos (jogadores) uma facilidade de relacionamento porque nosso presidente morava bem em frente ao Baenão. Tínhamos um bom respaldo. A comunicação com os dirigentes era muito boa. O Dultra, o nosso capitão, de um jeito que nem existe mais, era o interlocutor. Ele nos cobrava e cobrava os dirigentes.
fonte: O Liberal - Edição de 15/03/2009

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