segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Humilde, Tuna forma jovens talentos


Base
Sem espaço na dupla Re-Pa, candidatos ao futebol profissional correm para a Lusa

LEANDRO LAGE - Da Redação
A Tuna é uma fonte de riquezas para o futebol paraense. Os campos da Vila Olímpica revelaram jogadores como Manuel Maria, Giovanni, Jóbson... Hoje, continuam formando atletas de destaque. Os volantes Paulo de Tárcio, do Paysandu, e Marlon, do Remo, são exemplos disso. Sem dinheiro para grandes contratações, a saída encontrada pela Lusa foi investir nas categorias de base, que funcionam. A duras penas, mas funcionam. E, apesar das dificuldades, ainda têm mais estrutura do que as bases de Leão e Papão.
'É uma luta muito grande dos garotos. Alguns são recompensados, outros não', diz Ronaldo Arruda, 43 anos, técnico do time sub-20 cruzmaltino. A cada vinte ou trinta boleiros das categorias de base, apenas três ou quatro sobem para o futebol profissional. Quem não consegue, fica em segundo plano nos clubes. 'Se entrar algum recurso, vai para o profissional. Daí, o material que era deles vem para o sub-20. O que era nosso vai para o sub-17. E assim por diante', explica o volante Rorati, de 19 anos.
Nascido em Tomé-Açu, Rorati veio a Belém por dois motivos: os estudos e a bola, claro. 'Lá, só fica quem quer ser professor', conta o volante. Na hora de escolher onde jogar, visitou a Vila Olímpica e ficou. 'Escolhi a Tuna porque dá oportunidades para jogadores do interior e porque, apesar dos problemas, oferece mais condições paras os atletas. Não é porque os clubes estão em crise que vou me desmotivar', diz Rorati , que entrou no sub-15 e, hoje, defende o sub-20 tunante.
Além da busca por oportunidades, os aspirantes a jogadores ainda lutam por condições básicas de moradia enquanto estão nos clubes. É o caso do volante Tocantins que, como o próprio apelido revela, veio de longe para jogar futebol no Pará. No começo, treinaria no Paysandu. Depois, se viu obrigado a ir para a Tuna, de onde só quer sair para times de grande porte. 'No Paysandu, eles não davam condições de alojamento para os atletas da base. Então, escolhi vir para cá', conta.
Não é só no histórico de revelações que a Tuna leva vantagem. Para Ronaldo Arruda, outra conveniência da Vila Olímpica é o espaço físico destinado às categorias de base. 'O Paysandu leva seus jogadores para o campo do Tenoné. E não sei nem onde estão treinando os jogadores do Remo', acusa o treinador. Por outro lado, na Lusa, o futebol está longe de ser prioridade. 'O futebol da Tuna não recebe grandes investimentos. Até porque a maior receita do clube não vem do futebol', revela.
Vila é ninho de estrelas
A passagem de ônibus custa R$ 5. Mesmo assim, o meio-campista Castanhal, de 19 anos, faz 'bico', consegue o dinheiro e viaja por mais de uma hora da Cidade Modelo até chegar à sede da Tuna. Não é o aluno mais assíduo, nem o mais talentoso. Mas, sem dúvida, é um dos mais esforçados. 'Só penso em ir para o futebol profissional, arrebentar num time grande para ajudar minha família', diz o jogador, descrevendo o sonho de todos os companheiros da equipe sub-20 cruzmaltina.
Boa parte dos jogadores das categorias de base é como Castanhal, de origem humilde. Por isso, o trabalho nas escolhinhas e nos 'subs' acaba se tornando social. 'Nem todos eles serão jogadores de futebol, mas, pelo menos, estão longe da rua e do crime', argumenta Ronaldo Arruda. Na Tuna, a base é formada por quatro equipes: sub-13, sub-15, sub-17, sub-20. Todas estão lotadas de alunos, que disputam apenas dois campeonatos por ano, o Torneio Metropolitano e o Campeonato Paraense de bases.
Além do clube, os principais investidores desses atletas são os pais. 'A Tuna dá a estrutura, mas é a família quem banca tudo, são nossos pais que nos motivam a continuar', comenta o goleiro Djam Rodrigo, de 18 anos. Vindo de Irituia, interior paraense, Djam começou a jogar nas categorias da base azulinas. Chegou a disputar o sub-17 e o sub-20 pelo Remo, mas, como não teve oportunidades, pediu ajuda para o ex-treinador Carlos Lucena, da Tuna. 'Fiquei aqui pelo apoio e pelo alojamento, que o Remo não oferecia', revela.
Para Djam, a principal desvantagem da categoria de base da Tuna é conseqüência da crise financeira que atinge o clube. 'Aqui, temos alojamento e recebemos todo o apoio, mas ainda falta uma ajuda de custo', diz o goleiro. 'Vontade dos atletas não falta. O que falta é recurso para o futebol amador', complementa o volante Tocantins. Apesar das dificuldades, os atletas das bases continuam treinando três vezes por semana, sem receber nada por isso. Só com a expectativa de, um dia, ser um Manuel Maria, um Giovanni, um Jóbson.
fonte: O Liberal - Edição de 27/10/2008

2 comentários:

  1. A Tuna tradicionalmente forma jogadores no futebol. Pena que depois de começarem a aparecer os talentos e ficarem badalados, os jogadores vão jogar em outros clubes locais sem que a Tuna tenham um lucro. Fica difícil assim manter o futebol. Qual seria a saída para esta questão? Como reverter isso de modo que a Tuna possa ganhar com as revelações? Acho que a Tuna não deve se contentar com o papo da imprensa de que ela forma e revela craques para Remo e Paysandu. Só isso basta? Um abraço cruzmaltino. Márcio Rodrigues

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  2. Você tem toda a razão Marcio. Meu pensamento é o mesmo.
    Forte abraço.

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